"Desde o primeiro dia de nosso encontro, quando me ofereceu sua inesquecível Dança Brasileira, eu e Villa-Lobos estávamos de acordo em considerá-lo o melhor compositor brasileiro".
Artur Rubinstein

quinta-feira, 28 de junho de 2012


CAMARGO GUARNIERI - Abertura Concertante (1942) & Abertura Festiva (1971)

ABERTURA FESTIVA
Foi escrita por encomenda da Orquestra Filarmonica de SP, para ser executada no
concerto inaugural de gala da temporada de 1971. Sua estréia se deu em 20 de abril do
mesmo ano, sob a direção de Simon Blech.
O plano da obra é um A-B-C-B-A – CODA, isto é, três temas de caráter diferente, mais uma Coda. Cada um dos três temas domina uma das seções principais. Após acorde
quebrado no início da partitura, a flauta expõe o primeiro tema. Sob o acompanhamento das cordas, uma clarinete inicia a apresentação do segundo tema, que recebe um tratamento Fugatto confiado aos vários instrumentos de sopro. O terceiro tema recebe forte ambientação dos trombones e dos violinos.
Interessante notar que o compositor não indicou nenhuma mudança de tempo ou caráter ao utilizar os três temas, dando dessa forma uma unidade à obra. O compositor ainda utiliza as conquistas da arte musical, naturalmente preferindo as que mais se coadunam com a sua sensibilidade, por esta razão preferindo não mencionar qual a tendência ou estilística adotada. Fonte: frontispício do manuscrito original

ABERTURA CONCERTANTE
Foi composta em 1942 e dedicada ao compositor americano Aaron Copland. Quando Guarnieri voltou de sua estada em Paris após a segunda guerra mundial, ele havia perdido os postos que ocupava como maestro e professor. Nesse ínterim houveram diversos convites internacionais para que Guarnieri divulgasse sua obra no Panamá e nos EUA. Como ele não tinha dinheiro para as passagens, recorreu à Sociedade de Cultura Artística de SP pedindo ajuda na realização de um concerto de suas obras com o intuito de angariar fundos para sua viagem, foi aí que surgiu a encomenda desta obra pela presidente da Sociedade, a Sra. Esther Mesquita, estreando a obra com a Orquestra da Sociedade dia 2 de junho de 1942 no Teatro Municipal de SP sob a
regência do maestro João de Souza Lima.
Guarnieri fez a viagem aos EUA e regeu a obra com a Orquestra Sinfônica de Boston em 1943, sendo muito bem recebida pela crítica e pelo público, o que não aconteceu aqui no Brasil em sua estréia.
É uma obra vigorosa rica em nuances. Dividida em três seções com a forma ABA que pode ser vista igualmente como um Allegro de Sonata.
Esta sua obra funciona como um prelúdio para sua obra sinfônica, demonstrando sua maturidade e maestria na arte da composição.

Ian Matheus Romagnolo

quinta-feira, 21 de junho de 2012

TREZE CANÇÕES DE AMOR


Treze Canções de Amor

Guarnieri compôs o ciclo Treze Canções de Amor entre abril de 1936 e dezembro de 1937, mas não o publicou em editoras comerciais. Ao invés, solicitou uma edição particular ao seu copista e, depois, outra edição foi elaborada pelo Serviço de Difusão de Partituras da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. A cópia usada para este estudo, como fonte primária, é uma fotocópia desta última edição, gentilmente cedida por Edmar Ferretti, cantora e professora de canto que trabalhou com Guarnieri por muitos anos.
Apesar de não haver nenhuma continuidade poética estrita entre as canções, elas possuem uma ordem numeral sugerindo que o compositor concebeu o ciclo nesta seqüência específica. Do ponto de vista musical, a integridade do ciclo é justificada por Marion VERHAALEN (2001, p. 253) ao reafirmar o desejo do compositor: “Musicalmente, não demonstram que inicialmente houve qualquer intenção de agrupá-las, seja pelo estilo ou pela tonalidade, mas ele pretendia que fossem cantadas em conjunto”.

Treze Canções de Amor:
1. Canção do passado – Poesia: Corrêa Junior
2. Se você compreendesse... – Poesia: Rossine Camargo Guarnieri
3. Milagre – Poesia: Olegário Mariano
4. Você... – Poesia: Francisco de Mattos
5. Acalanto do amor feliz – Poesia: Rossine Camargo Guarnieri
6. Em louvor do silêncio... – Poesia: Corrêa Junior
7. Ninguém mais... – Poesia: Cassiano Ricardo
8. Por que? – Poesia: Camargo Guarnieri
9. Cantiga da tua lembrança – Poesia: Rossine Camargo Guarnieri
10. Talvez... – Poesia: Carlos Plastina
11. Segue-me – Poesia: Quadra popular
12. Canção tímida – Poesia: Cleómenes Campos
13. Você nasceu... – Poesia: Rossine Camargo Guarnieri

A variedade de climas poéticos neste ciclo pode ser explicada pela diversidade de poemas que Guarnieri escolheu para musicar. As fontes poéticas foram de vários autores aproximadamente contemporâneos do compositor, com exceção de Segue-me, cujo poeta é anônimo e tornou-se, portanto, uma poesia de época indefinida da tradição popular. Um poema foi escrito pelo próprio Guarnieri - Por que?, que ao invés de revelar seu nome, o compositor preferiu colocar três ‘x’ no alto esquerdo (local do poeta) da partitura.
Rossine Camargo Guarnieri, o primeiro irmão do compositor, é autor de quatro dos poemas usados no ciclo: Se você compreendesse, Acalanto do amor feliz, Cantiga da tua lembrança e Você nasceu. O poema Ninguém mais é de autoria do poeta paulista Cassiano Ricardo Leite. Olegário Mariano, é autor do poema Milagre. Outros poetas contidos no ciclo são: Corrêa Junior, Canção do Passado e Em Louvor do Silêncio; Francisco de Mattos, Você; e Carlos Plastina, Talvez.

Link da monografia que contém trechos em partitura das canções.

REFERÊNCIAS

SANTOS, José Vianey dos. Treze Canções de Amor de Camargo Guarnieri: uma abordagem histórica, analítica e interpretativa. Per Musi, Belo Horizonte, p.72-84, n.13, 2006.

VERHAALEN, Marion. Camargo Guarnier: Expressões de uma vida. Tradução de Vera Silvia Guarnieri. São Paulo: EDUSP, 2001.


                                                                                           Izabel e Sônia Rocha Almeida

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Álbuns para download

Pesquisando sobre as obras de Camargo Guarnieri, encontrei esse blog que disponibiliza alguns álbuns do compositor, para download gratuito





Link para downloads


P.Q.P Bach
http://www.sul21.com.br/blogs/pqpbach/category/camargo-guarnieri/



Postagem de: Bruno Pereira do Nascimento

Concerto n° 2 para violino e orquestra (1953)



"O Concerto nº 2 é a mais controversa das três obras  [Choro para violino e orquestra (1951) e Concerto n° 1 para violino e orquestra (1940)]. Faltam informações sobre vários fatos importantes que cercaram sua criação." A primeira página de sua redução para violino e piano traz dedicatória a Henryk Szeryng, mas sua estréia só ocorreu em março de 1956, em São Paulo, com solo de Anselmo Zlatopolsky e a Orquestra Sinfônica Municipal dirigida pelo compositor. Ele foi executado em Berlim, provavelmente em 1972, com solo de Götz Bernau e a Orquestra Sinfônica de Berlim dirigida pelo maestro português Álvaro Cassuto.

"Como uma surpresa, o concerto começa com a cadência do violino solo antecedida apenas por um rápido crescendo dos tímpanos e harpa". "O compositor deu ao intérprete a opção de não fazer a cadência, indicando-a ad libitum, mas ela tem funções que dão certa originalidade à obra. [...] Contém essa cadência elementos temáticos do terceiro e do segundo movimentos, pelo que significa uma espécie de antecipação estética, e é vazada numa escrita que, pela riqueza e complexidade, atende, sem prejuízo para a funcionalidade do trecho, à tradicional exigência de virtuosidade."

"O primeiro movimento, Allegro energico, é monotemático e sua exposição começa logo após o final da cadência. [...] Como nas duas obras anteriores para violino e orquestra, o desenvolvimento segue imediatamente a exposição na forma de variações sucessivas do tema a cargo do violino solo como principal entidade melódica e condutora.

No quarto compasso do segundo movimento, 'Triste', "a primeira clarineta apresenta uma melodia muito expressiva que o compositor denominou 'refrão' [...]. Apenas no compasso 19 aparece o tema principal, tocado na quarta corda do violino [...]. Refrão e tema têm a mesma dimensão (15 compassos) e uma forte cor modal".
No terceiro movimento, Allegro giocoso, Guarnieri retoma a forma A-B-A' empregada no movimento análogo do choro anterior. O primeiro tema "é exposto pelo solista após quatro compassos introdutórios da orquestra, cheios de força rítmica, estabelecendo grande contraste com o movimento anterior." O segundo tema aparece "após um episódio em que predominam a alternância de diferentes compassos e maior participação orquestral, principalmente dos sopros."

Na coda, 'Presto', "o solista toca uma desabalada seqüência de semicolcheias, como um moto perpetuo, interrompida somente nos compassos finais da obra para dar lugar ao crescendo final."





Segue abaixo os vídeos, executados pela OSM no Teatro Municipal de São Paulo, em agosto de 2008, sob a regência de Lutero Rodrigues e o solo ao violino de Luiz Filipe. Filmado pela Berço Esplêndido, sob a direção de Carlos de Moura Ribeiro Mendes, para o projeto "Camargo Guarnieri - 3 Concertos para Violino e a Missão", realizado pela Secretaria de Cultura da Cidade de São Paulo e pelo Centro Cultural São Paulo, sob o patrocínio pela Petrobras. 










Retirado do Centro Cultural:
http://www.centrocultural.sp.gov.br/cg/compositor.htm
                                                                               
                                                      Postagem de: Bruno Pereira do Nascimento

Camargo Guarnieri é entrevistado e rege "Homenagem à Villa Lobos"




A Reportagem de 80 anos de Camargo Guarnieri, que foi ao ar em Julho de 1987 o entrevistado rege a "Homenagem à Villa lobos" .

A peça contém 3 movimentos : Coco - Toada - Baião




Postagem de: Bruno Pereira do Nascimento



guarnieri-600

Postagem de Bruno Pereira do Nascimento
Mozart Camargo Guarnieri
camargo guarnieri 300 Baldini e Radu interpretam Camargo Guarnieri
Camargo Guarnieri
O siciliano Miguel morava no interior de São Paulo. Barbeiro por profissão, nas horas vagas era músico. Casou-se com dona Géssia Arruda Camargo Penteado, boa moça que tocava piano e dominava as prendas do lar. Da união nasceram dez crianças, sendo quatro meninos: Mozart, Belline, Rossine e Verdi. Verdi morreu com dois anos de idade, Belline e Rossine (essa era a grafia) não seguiram a carreira musical. No caso do primogênito, foram ouvidas as preces do siciliano: com treze anos, Mozart Guarnieri compôs sua primeira obra, inspirado pela beleza de uma amiga de suas irmãs.
Tratava-se da valsa denominada “Sonho de Artista”, publicada com dedicatória para o professor de Mozart. Entretanto, o docente não gostou da ousadia (muito jovem para compor!) e acabou por brigar com Miguel. A família mudou-se em 1922 para a capital em busca de melhores professores para Mozart, que no futuro adotaria o nome artístico de M. Camargo Guarnieri, “para não ofender o Mestre”, referindo-se ao grande compositor austríaco, e para homenagear a mãe, de quem não herdara o sobrenome.
Em São Paulo, a carreira de Guarnieri teve um considerável salto qualitativo. Da convivência com o escritor Mário de Andrade, das lições com o regente Lamberto Baldi, do trabalho em lojas de música e em orquestras surgiu um consolidado artista, principal representante do nacionalismo na música erudita brasileira. O compositor estudava temas da musicalidade popular para em seguida criar suas obras, sem se apropriar de melodias já existentes: vide obras como a Canção Sertaneja e a Dança Brasileira, que se tornaram famosas à época.
O nacionalismo, porém, ia de encontro ao pensamento de um grupo que pretendia introduzir no país uma linguagem musical vanguardista, ligada a movimentos culturais europeus. Era o grupo Música Viva, liderado por Hans-Joachim Koellreuter, adepto do dodecafonismo (método de composição fundamentado na ordenação em série de alturas de som). Em 1950, Guarnieri publicou a Carta Aberta aos Críticos e Músicos do Brasil, na qual desancou o grupo rival: chamou o dodecafonismo de “corrente formalista que leva à degeneração do caráter nacional de nossa cultura”. Seus seguidores estariam abraçando algo comparável a “um vício de semimortos, um refúgio de compositores medíocres, de seres sem pátria, incapazes de sentir, de amar e revelar tudo o que há de novo, dinâmico e saudável no espírito de nosso povo.
Dentre as obras compostas nos anos seguintes à publicação da Carta Aberta, três estão presentes no CD “Sonatas para violino e piano n.ºs 4, 5 e 6”, lançado em 2011 pelo selo Biscoito Clássico (complementa o CD uma peça anterior, o “Encantamento”, em transcrição para a mesma formação). São composições com movimentos centrais muito contidos, que convidam o ouvinte à reflexão. Guarnieri cria uma atmosfera intimista por meio de indicações suaves de dinâmica e efeitos como os “glissandi”. É música executada em volume baixo, com melodias repletas da musicalidade interiorana paulista.
Os movimentos externos trazem passagens de maior agilidade: destaca-se o “Allegro Appassionato” da Sonata nº 4, cuja melancólica figura inicial é desenvolvida em variações que exigem do violinista grande domínio técnico e capacidade de expressão na medida certa, sem excessos. Por sua vez, o “Gingando” da Sonata nº 5 remonta às melodias nordestinas – o que não é de surpreender, uma vez que a obra foi composta poucos anos depois da Suíte Vila Rica, peça que termina com um animado baião e que recebeu em 2011 uma belíssima execução pela Orquestra Filarmônica do Espírito Santo (Ofes), sob a regência de Roberto Duarte. A Sonata nº 6 tem os dois primeiros movimentos mais integrados, caracterizados por uma atmosfera sombria. Finalizará com um “Grandioso”, quando o clima inicial da obra dá lugar a expressões de maior vigor, incluindo passagens declamatórias, com frases mais curtas e incisivas, ora emitidas pelo violino, ora pelo piano, em verdadeiros diálogos musicais.

A gravação
camargo guarnieri CD 300 Baldini e Radu interpretam Camargo Guarnieri
A capa do CD
Na presente gravação, os artistas estão à altura das exigências impostas pelas obras. Não se intimidam com as constantes mudanças de atmosfera e interpretam adequadamente os temas nacionalistas. Tecnicamente, são de alto gabarito: o violinista italiano Emmanuele Baldini, é atualmente spalla da Osesp e tem sólida formação – foi aluno de Corrado Romano (pupilo de George Enescu e Carl Flesch), além de ter estudado música de câmara com dois baluartes da música camerística italiana: o Trio di Trieste (constituído em 1933) e o violoncelista Franco Rossi, membro do Quartetto Italiano.
Já a pianista romena Dana Radu formou-se na Universidade Nacional de Música de Bucareste (“alma mater” de pianistas como Dinu Lipatti e Radu Lupu). A parceria resultou em um CD bastante atrativo: boas interpretações, correta escolha de repertório, excelente qualidade da gravação e um livreto informativo e bem elaborado. Após ouvi-lo, temos a certeza de que o barbeiro Miguel, felizmente, fez escolhas corretas para o futuro de seu primogênito.
CAMARGO GUARNIERI
Sonatas para violino e piano nos. 4, 5 e 6.
Emmanuele Baldini, violino – Dana Radu, piano
Selo: Biscoito Clássico

(Publicado originalmente no jornal “A Gazeta” (ES) no dia 21/01/2012. Houve pequenas adaptações para publicação no site.)
                                                                    


                                                                  Postagem de: Bruno Pereira do Nascimento

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Sinfonias nº 2 e 3 e a Abertura concertante



Em 1942, o compositor aceita a encomenda de uma composição e dedica a Abertura Concertante ao amigo norte-americano Aaron Copland Em Nova York é apresentado a Sergei Koussevitzky que o convida para reger a Abertura à frente da Sinfônica de Boston. A estréia brasileira da Abertura concertante se dá no mesmo ano da composição, em 1942, com boa receptividade da crítica especializada. Dentre as manifestações destaca-se a do musicólogo Mário de Andrade, afirmando que pela primeira vez um autor encontrava a solução para o “allegro” brasileiro. De fato, os temas da Abertura – assemelhados entre si - são inventados por Guarnieri e trabalhados com os recursos da orquestra clássica onde os tímpanos são usados no reforço da estruturação, no desenvolvimento das idéias temáticas, conferindo dinâmica interna à obra ternária.
A Sinfonia nº 2, também conhecida como “Uirapuru”, nasce em 1945, em trajetória de sucesso, pois, no ano seguinte, antes de sua estréia, obtém o segundo lugar (Prêmio Reichold) no Concurso Sinfonia das Américas, promovido pela Orquestra de Detroit (EUA). Dedicada a Heitor Villa-Lobos, foi apelidada de “Uirapuru”, nome do pássaro amazônico que ele tanto gostava. A versão da Sinfonia nº 2 escolhida para a gravação deste Compact Disc é a versão integral. Quando Guarnieri escreve a Sinfonia nº 3, em 1952, há certa expectativa por parte do meio musical. Alguns meses antes ele redigira e fizera publicar uma Carta aberta aos músicos e críticos do Brasil, quase um manifesto político contra as ingerências estéticas externas, vale dizer, contra o emprego dos princípios do dodecafonismo.
Alunos de composição, leitores, ouvintes e jornalistas manifestaram-se, a favor ou contra, gerando a polêmica musical mais criativa que o Brasil jamais teve. Assim, a sinfonia deveria apontar para os rumos de uma escola de composição brasileira e contemporânea. Escrita em três movimentos, trabalha os contrastes entre o soturno e o “violento” revigorando a expressão da orquestra. A Sinfonia nº 3 obteve o primeiro lugar no Concurso IV Centenário da Cidade de S. Paulo, em 1954.

Ian Matheus Romagnolo